O Brasil é um país feliz. Mais do que a Espanha, a Itália, o Japão... Sei que dizendo coisa assim, provoco risinhos de escárnio. Pois é, mas não sou eu que estou dizendo. É o Relatório Mundial da Felicidade - (World Happiness Report 2025) - da Universidade de Oxford, do Reino Unido, que anualmente mede o grau de felicidade de cada país. Ocupamos a 36ª posição no ranking entre 147 avaliados. O país mais feliz do mundo é a Finlândia. O mais infeliz, o Paquistão. Os critérios? PIB per capta, expectativa de vida saudável, apoio social, sentimento de liberdade, generosidade e percepção de corrupção.
Não é nada fácil explicar tanta felicidade no Brasil. Cerca de 59 milhões de brasileiros vivem na faixa da pobreza. Perto de 29 milhões da população é considerada analfabeta funcional. Aproximadamente, 190 dias é o tempo de espera de cirurgia na fila do SUS. Cerca de 335 mil pessoas estão morando nas ruas. Com números assim vergonhosos, como explicar a nossa classificação à frente de países do primeiro mundo? Complicado, não?
No início dos anos 80, as câmeras e os microfones da poderosa BBC Britânica resolveram visitar os morros do Rio de Janeiro para contar ao mundo como era o dia sofrido de uma maria favelada. A intenção era mostrar a dor e a desesperança dessa mulher brasileira, periférica e pobre, que subia, todos os dias, o morro equilibrando uma lata de água na cabeça. Quebraram a cara.
A jovem favelada, protagonista do documentário, surpreendeu os jornalistas. Apesar do peso da lata e da penúria cotidiana, ela subia o morro cantando. Entrevistadas outras marias, todas exibiram o mesmo exuberante tesão pela vida. Que frustração! Esperavam encontrar revolta e tristeza, jamais alegria jorrante. Como a miséria do lugar produzia essa alma festiva? Como entender a teimosia dessa plantinha que, lutando para viver, dava um jeito de enfiar o galhinho verde na frincha da pedra bruta?
Engraçado, sempre achamos que, na alma do pobre, o sofrimento deve ser inquilino necessário. Puro preconceito. Sem romantizar a pobreza, que seria ingenuidade, essa é uma associação equivocada. Quantas vidas de sucesso e de luxo não moram em mansões depressivas? A propósito, Álvaro de Campos, heterônimo de Pessoa, disse: "E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu." A alegria da alma não se contabiliza, necessariamente, com números da riqueza. A felicidade é coisa mais da alma do que do bolso.
Fico imaginando a reação dos jornalistas se conhecessem um daqueles churrasquinhos nas lajes faveladas? Quanta energia boa nos corpos requebrando. Quanta sensualidade na ginga dos quadris enlouquecidos. Quanta alegria orgásmica nas pratinelas do pandeiro. Poesia nas frases do repinique comandado por um imponente surdo general. Uma explosão de libido dialogando com tamborins tagarelas. Cerveja, caipirinha, cachaça...
"Ah que vida boa olerê, ai que vida boa olará!." Bem que o Chico disse: o estandarte do sanatório geral vai ar!