15 de junho de 2025
OPINIÃO

Por uma Franca que vale a viagem 5e314n

Por Marília Martins |Especial para o GCN
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Imagem mostra apresentação do Sarau Protesto, liderado pelo poeta Carlos de Assumpção em Franca

Franca, a capital do calçado e do basquete, é também uma cidade que pulsa com histórias, talentos e possibilidades culturais ainda à espera de um palco maior. A pergunta que se impõe é: até quando seremos conhecidos apenas pelo que produzimos e não pelo que inspiramos? 1t3014

Imagine uma Franca onde a cultura deixe de ser coadjuvante e assuma o papel de protagonista. Onde nossas praças, hoje tomadas pelo mato e sujeira, tornam-se palcos vibrantes de música, teatro e arte. Onde os bairros periféricos, muitas vezes esquecidos, transformam-se em pólos vibrantes de inclusão. Onde nossas tradições e talentos não só geram orgulho, mas também atraem visitantes de longe, movidos pelo desejo de vivenciar a criatividade local.

A cultura é muito mais do que lazer; é uma poderosa alavanca econômica. Em Franca ouvimos há anos falas sobre a baixa produção de riqueza, já que a indústria calçadista vive os impactos da concorrência internacional e das crises internas, o que impacta em um orçamento público também muito menor que de cidades do mesmo porte - e, claro, menores recursos para investimentos públicos. Mas são muitos os lugares que se reinventaram e encontraram na cultura uma fonte de recursos inestimável.

Exemplos de cidades que geram riqueza e se tornam referência usando a cultura como base não faltam: Gramado se tornou referência internacional com seu festival de cinema; Ribeirão Preto atrai milhares com sua Feira do Livro; no Rio de Janeiro, festivais de música atraem multidões do país todo. Fora do Brasil, um exemplo muito emblemático são os parques da Disney. Na década de 50, um empresário decidiu investir em uma área pantanosa e criar um dos maiores parques temáticos do mundo. Uma região inteira se tornou um motor econômico, sonho que vale uma viagem, longa e cara, para milhares e milhares de turistas do planeta.

A economia criativa faz parte de um grupo de cinco “economias emergentes”, que apresentam o maior potencial de crescimento nos próximos anos (a economia verde, a economia do cuidado, a economia prateada, a economia criativa e a economia digital). O setor cultural no Brasil experimentou uma expansão de 4% na oferta de empregos em 2023, comparado aos 2% observados na economia geral, com 7,8 milhões de novos postos de trabalho no ano. De acordo com o de dados do Observatório da Fundação Itaú, de abril a dezembro de 2023, foram gerados 577 mil novas vagas, um salto significativo em relação aos 287 mil registrados no ano anterior.

Franca, com sua rica história, artistas talentosos e paixão por inovação, tem tudo para trilhar um caminho próprio nesse cenário. Em 2024, artistas de todos os 645 municípios do Estado de SP puderam concorrer a bolsas de incentivo no PROAC (Programa de Ação Cultural de SP). De 20 selecionados na área de música, 3 são de Franca.  A cidade também teve grupos do teatro, folia de reis e hip hop aprovados, além de outros grupos contemplados em editais dentro e fora do Brasil. Isso significa que apenas alguns grupos talentosos da cidade vão injetar quase 2 milhões na economia da cidade em 2025.

Imagine se Franca tivesse uma central de projetos para ensinar demais grupos e artistas a se inscreverem também, ou que a prefeitura investisse pelo menos 1% do seu orçamento, no setor.

Investir na cultura é investir nas pessoas. É dar voz aos jovens, oportunidades aos artistas, vida aos espaços públicos. É gerar empregos, fortalecer o turismo e criar um legado que será lembrado pelas próximas gerações.

Mas é preciso investir com consistência, planejamento e transparência.

A cultura é a chave para movimentar nossa economia e, ao mesmo tempo, encher de orgulho os corações francanos.

O que Franca precisa agora é de visão, coragem e ação. Porque, no fundo, não é apenas sobre atrair visitantes ou criar empregos; é sobre construir uma cidade que vale a viagem – e onde vale a pena viver.

Marília Martins é professora, produtora cultural, foi membro do Conselho de Políticas Culturais, do Conselho da Condição Feminina e atualmente é vereadora pelo Psol.