“Se você está numa rinha, a torcida contra quer que você tropece!”
Nada como a sabedoria de quem trilhou a vida profissional e tem a experiência da senioridade. Parece inacreditável, mas é mais comum do que imaginamos, o bullying no ambiente de trabalho, conhecido como assédio moral.
A metáfora, forte e incômoda, foi dita num momento de desabafo por um gerente executivo sênior de uma empresa brasileira que revela um aspecto silencioso e corrosivo de muitos ambientes profissionais: a disputa egóica travestida de liderança.
Assim como nas rinhas de galo - em que dois animais são forçados a lutar até a exaustão ou a morte sob os gritos da torcida -, há líderes que, pressionados por ego, insegurança ou vaidade, entram em embates desnecessários com seus pares. O objetivo deixa de ser a colaboração e a a ser a vitória pessoal, muitas vezes incentivada ou aplaudida por espectadores invisíveis.
O assédio moral no ambiente de trabalho, geralmente, envolve ações intencionais e contínuas que visam intimidar ou prejudicar a vítima. Manifesta-se por meio de críticas destrutivas, sabotagem de tarefas, exclusão de reuniões ou decisões importantes, além da manipulação de informações. O agressor se aproveita de uma posição de força (física, hierárquica ou social) para atacar alguém aparentemente mais vulnerável.
Neste tipo de “rinha corporativa”, o sucesso do outro incomoda, e o fracasso vira espetáculo. A torcida contra está sempre presente, silenciosa ou ruidosa, esperando a queda, o tropeço, o vacilo. O cenário do ambiente de trabalho se transforma num campo de batalha onde o aprendizado cede lugar ao medo e a confiança é sacrificada em nome da autopreservação.
Embora as empresas sejam responsáveis por criar políticas contra o assédio, promover um ambiente saudável e garantir canais de denúncia, muitas vezes o assédio é sorrateiro. Provocações diárias, para minar a confiança de seu “rival” na tentativa de desestabilizá-lo, com estímulos contínuos para induzi-lo ao erro. Pesquisas reforçam que o assédio moral é frequentemente resultado de uma cultura empresarial perversa ou disfuncional, onde certos fatores como a competição interna excessiva, ausência de comunicação e a omissão da gestão criam um clima propício para rivalidades e abusos.
No entanto, quando a cultura da empresa é robusta, ou seja, valores, crenças, normas e práticas que moldam o comportamento estão presentes no DNA de seus colaboradores, mais do que um “ambiente agradável”, um bom clima organizacional é o reflexo de relações saudáveis, comunicação assertiva, confiança mútua e senso de pertencimento.
A observação do gerente é um alerta sobre líderes que se posicionam como rivais em vez de aliados. Alimentam uma lógica predatória que mina o propósito, compromete resultados e desumaniza as relações. “Liderança não é ringue, é responsabilidade. É criar pontes, não trincheiras. Em vez de rinhas, é preciso construir redes de apoio, confiança e cooperação.” Cultivar um ambiente saudável é uma decisão de gestão com impacto direto na produtividade, retenção de talentos e na reputação da marca empregadora.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora ([email protected])