A lição das urnas é uma só: nenhum poder resta para sempre

Por Editorial JP |
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Dizer que Piracicaba sobreviveu às eleições não soa algo democrático. Uma vez que de 4 em 4 anos elas são repetidas. Mas há muito tempo não se via uma disputa tão acirrada, com ânimos exaltados e, o que é mais vergonhoso, com o uso de material difamatório e calunioso. O Jornal de Piracicaba foi atacado por diversas vezes, suas matérias e reportagens foram taxadas de «fake news», ou, num português bem claro, de falsas e mentirosas. Um «meme» fora criado com um suposto carimbo «fake news», em letras vermelhas que se sobrepunham à manchete do JP. Este meme foi postado nas redes sociais de diversos apoiadores da coligação «Piracicaba Avança Mais», inclusive do atual Prefeito.

Mas isso não foi tudo: O Jornal de Piracicaba foi alvo de pressão de um vereador recém eleito para que nossa redação publicasse, às pressas, e sem qualquer checagem para se apurar a verdade dos fatos, notícia com a finalidade de atacar a conduta moral de um dos candidatos. Recebemos por meio de mensagem, em celular de autoria desconhecida, nada menos que 24 «memes», todos eles, sem excessão, com o objetivo de difamar o candidato, hoje prefeito eleito; e nenhum deles com o objetivo de difamar o candidato derrotado.

Nossos repórteres flagraram nos semáforos da cidade a distribuição de material impresso da coligação «Piracicaba Avança Mais» de natureza difamatória ao candidato de oposição, o qual fora objeto de busca e apreensão pela Justiça Eleitoral. Um boato de má-fé espalhou pelas redes sociais que o então candidato à vice prefeito, Sr. Gabriel Ferrato, havia morrido, quando em verdade, ele apenas foi submetido a uma cirurgia (e a bem). Fora montada uma polêmica em torno da lagoa do bairro Santa Rosa, situada em propriedade privada do candidato de oposição, cuja desapropriação fora instigada pelos moradores da região e, a partir disso, foram criadas histórias de desvario e desmando, só com a finalidade de desacreditar o candidato hoje eleito.

Vale a pergunta: a que ponto foi preciso chegar para se manter no poder?

A internet e as redes sociais proporcionaram voz a milhares de imbecis. A frase grotesca (mas sábia) não é minha, mas do linguista e escritor italiano Umberto Eco. A informação rápida, jogada nas redes sociais, vem com o intuito de confundir e manipular a verdade. As redes sociais permitem o compartilhamento dessa informação, mesmo que falsa, e se espalha tal como folha no vendaval. E ela se multiplica. A informação criada na rede social quase sempre não tem origem, não tem autoria, falta-lhe procedência idônea. E quando a dúvida se instala, nela opera a oficina do diabo, no dito popular.

O Jornal de Piracicaba desde de 1900 tem por regra fazer rigorosa checagem das notícias que publica. Verificar fontes, confirmar fatos ocorridos e ouvir todas as partes envolvidas. Mas em muitos casos, a parte envolvida não tem uma boa resposta para dar à redação do JP, não têm desculpas a inventar. Então se omite: escolhe o silêncio. Depois que a notícia é publicada, vem com aquele discurso inverídico: «não fui ouvido», «ninguém me procurou para eu me defender». E agora há um ataque mais enfático: «trata-se de fake news», ou notícias falaciosas. Assim, um jornal de 120 anos de existência é taxado de «imprensa marrom». Não há limites quando se quer ganhar.

Ao dizer que uma resposta à nossa redação, dada pelo próprio Tribunal Regional Eleitoral sobre o que ocorreria se o atual Prefeito fosse eleito, é uma notícia falsa; ou ao dizer que «a candidatura de Barjas Negri estaria legitimada pelo Tribunal Superior Eleitoral», em resposta à Carta aberta do JP, na edição de sexta, 27 de novembro, a coligação «Piracicaba Avança Mais» desejava induzir o leitor à dúvida, deixá-lo na escuridão do mal entendido. Mas a verdade incômoda precisava ser dita. E a dissemos.

Cabia ao eleitor piracicabano fazer sua escolha. Mas não uma escolha às cegas. Não uma escolha mergulhada em desinformação. Esta é a coragem da verdade de que fala o filósofo Michel Foucault, em sua última palestra no Collège de . A coragem de dizer o verdadeiro é a última fronteira de nossa resistência ao poder. É uma volta à filosofia grega de Sócrates, o qual prefere morrer a abrir mão de suas ideias e da liberdade de transmiti-las aos outros. É também uma volta ao filósofo grego Diógenes, que rejeita as convenções sociais (fama, poder, dinheiro), em troca de exercer um modo de vida verdadeiro. Como em Foucault, a coragem de dizer a verdade não é apenas um mero discurso, é um modo de vida. Esse é o modo de vida do Jornal de Piracicaba. E tem sido há 120 anos.

por Marcelo Batuíra Losso Pedroso


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